7- A geração de 22 - características literárias

A Geração de 22 - fase heroica - primeira geração modernista



Livro didático:  Se Liga nas Linguagens - capítulo 12 -  páginas 120 a 128

  

Didaticamente, o Modernismo é dividido em três fases ou três gerações. A primeira, é conhecida como a geração de 22; a segunda, como geração de 30; a terceira, como geração de 45. Dos anos 1960 em diante, há quem chame de pós-modernismo, pós-modernidade ou, simplesmente, contemporânea.

Comecemos pela geração de 22 ou fase heroica.

A geração de 22 deu prosseguimento aos pressupostos teóricos apresentados na Semana de Arte Moderna. Já tivemos uma noção dessas propostas na análise das pinturas. Agora, iremos para a literatura, cujos escritores de destaque são Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.

Em linhas gerais, os poetas da geração de 22 concebem o texto literário (prosa ou verso) com características literárias tais como:

a)   A busca pela liberdade formal, sem a preocupação com rimas, métrica, formas fixas (soneto). Dessa forma, demonstram rompimento com o academicismo literário;

b)   A livre associação de ideias sem a preocupação com a pontuação ou mesmo com a norma culta. Daí a preferência pelo popular, coloquial. Assim, rompem com a gramática tradicional e com o vocabulário rebuscado;

c)  A leveza nas palavras, a ironia, os poemas-piada, e a paródia (textos a partir de obras literárias consagradas). Dessa maneira, deixam de lado o tom solene até então valorizado;

d)  A valorização da síntese, da linguagem nominal, da linguagem cinematográfica/flashes e da fragmentação se opõem à tradicional discursividade lógica;

e)  O humor como recurso crítico toma o lugar do sentimentalismo romântico e do formalismo parnasiano;

f)    A busca das raízes nacionais na produção textual, às vezes com tom ufanista e/ou crítico, tomam o espaço da valorização das estéticas artísticas estrangeiras

Antes de conversarmos sobre os autores, conversemos sobre as características literárias da primeira geração modernista ou geração de 22. Para tanto, observe os poemas abaixo.

Poema 1
ERRO DE PORTUGUÊS (Oswald de Andrade)

Quando o português
Chegou debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
 

Explicando o poema - O autor revisita o período do descobrimento do Brasil. Nos três primeiros versos, o fato do índio ter sido vestido pelo português metaforiza a suplantação da cultura indígena pela cultura estrangeira. O eu lírico lamenta isso no quarto verso e propõe uma situação inversa, isto é, a cultura indígena ser mais forte do que a cultura estrangeira. Daí a metáfora de o português ter sido despido.

 Características literárias:

        Síntese - o poema possui linguagem objetiva, não se perdendo em divagações.
        Linguagem coloquial - vocabulário acessível, simples e cotidiano.
        Verso livre - não há qualquer tipo de métrica pré-definida.
        Verso branco - não há qualquer intenção em produzir rimas.
        Revisão histórica do passado brasileiro - uma nova abordagem é feita para recontar a história.
        Ironia - depende do ponto de vista, mas percebe-se isso na inversão dos papéis.
        Valorização da paisagem nacional - os indígenas são paisagem brasileira.
        Nacionalismo crítico - se confunde com a revisão histórica do nosso passado.


Poema 2
O CAPOEIRISTA (Oswald de Andrade)

-   Qué apanhá sordado?
-   O quê?
-   Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada

Explicando o poema - um diálogo (talvez um bate-boca) entre um capoeirista e um soldado. Ainda nos primeiros anos da República, a capoeira era transgressão às leis vigentes. Nesse sentido, o eu lírico recupera essa realidade e traz para o leitor.

Características literárias:

        Síntese - o poema possui linguagem objetiva, não se perdendo em divagações.
        Verso livre - não há qualquer tipo de métrica pré-definida.
        Verso branco - não há qualquer intenção em produzir rimas.
        Valorização da paisagem nacional - um aspecto cultural é retratado no poema.
        Linguagem coloquial - bem coloquial mesmo, registro escrito como se fala.
        Fragmentação  - o diálogo é bem sintetizado e faltam informações facilmente perceptíveis.


Poema 3
SÃO JOSÉ DEL REI (Oswald de Andrade)

Bananeiras
O Sol
O cansaço da ilusão
Igrejas
O ouro na serra de pedra
A decadência

Explicando o poema - um cenário de uma cidade é descrito sem o uso de verbos. Apenas frases nominais.

Características literárias:

        Síntese - o poema possui linguagem objetiva, não se perdendo em divagações.
        Verso livre - não há qualquer tipo de métrica pré-definida.
        Verso branco - não há qualquer intenção em produzir rimas.
        Valorização da paisagem nacional - um aspecto cultural retratado no poema.
        Linguagem coloquial -  vocabulário comum e corriqueiro.
        Fragmentação - muito fragmentado, apenas frases nominais. Não há verbos.

Poema 4 
MEU EPITÁFIO (Cora Coralina)

Morta... serei árvore,
serei tronco, serei fronde
e minhas raízes
enlaçadas às pedras de meu berço
são as cordas que brotam de uma lira.
Enfeitei de folhas verdes
a pedra de meu túmulo
num simbolismo
Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos.
de vida vegetal.

Explicando o poema - No poema, há um rigor gramatical. Entretanto, a ordem é simples e direta, com vocabulário bastante acessível ao leitor. Por outro lado, o poema não apresenta rigidez formal no sentido de se preocupar com rimas ou metrificação. Mesmo revelando traços da literatura tradicional, há também a modernidade nele. 

Características literárias:

        Síntese - o poema possui linguagem objetiva, não se perdendo em divagações.
        Linguagem coloquial - vocabulário acessível, simples e cotidiano.
        Verso livre - não há qualquer tipo de métrica pré-definida.
        Verso branco - pouquíssimas rimas, não comprometendo a clareza do poema..
        Rigor gramatical - poema bem pontuado e sintaticamente em ordem direta.
        Linguagem coloquial -  vocabulário comum e corriqueiro.

Arrematando - A estrutura e linguagem de quaisquer um dos quatro poemas acima demonstram, na prática, a ruptura proposta pelos modernistas:

-          Da solenidade temática a temas do cotidiano.
-          De uma linguagem rebuscada a uma linguagem coloquial e simples.
-          De uma estrutura formal rígida (métrica e rima) a uma estrutura bem leve.
-          De abordagens específicas para abordagem de elementos típicos brasileiros e/ou cotidianos.

Orientações para estudo
No link abaixo, vídeoaula (Youtube)  do professor Diogo (literatura - da equipe Descomplica) que faz uma abordagem rápida sobre as três gerações do Modernismo (calma, estudaremos cada geração separadamente - nesse momento é só a primeira), além de destacar a importância da Semana de Arte Moderna    
 https://www.youtube.com/watch?v=D8xQel1nhxg

No link abaixo, vídeoaula do professor Noslen(Youtube)    que apresenta de forma mais abrangente a primeira geração modernista e as características literárias, a importância das revistas, manifestos e movimentos subsequentes à Semana de Arte Moderna,  além  de uma breve revisão do que já foi trabalhado.
 https://www.youtube.com/watch?v=WmOICqpg4Rg&t=267s  

                                                                                                                        Fernando Fernandes

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