12 - PAS 3 - Poemas aos homens do nosso tempo (Hilda Hilst); Soneto (Ana Cristina César) e Quebranto (Cuti); Esses Chopes Dourados (Jorge Wanderley); Tecendo a manhã (João Cabral de Melo Neto)



Olá, gente. 


A publicação em pauta visa dois propósitos:
a) Composição de nota do quarto bimestre por meio de tarefa em formulário cujo valor será 3,0 pontos;
b) Servir de apoio aos estudantes que farão o PAS 3.

Observação  - Se seu objetivo é apenas cumprir a tarefa para composição de nota do quarto bimestre, o link do formulário está logo abaixo e basta acessá-lo, ler os textos com atenção e responder ao que é solicitado cujo prazo limite para envio da resolução será às 22h do dia 20 de outubro de 2024, domingo.

Se seu objetivo também é aprimorar os seus estudos para o PAS 3, além da resolução do formulário para composição de nota, leia e estude também todo o restante desta  publicação.



Sigamos em direção à obra Poema aos Homens do Nosso Tempo
da autoria de Hilda Hilst.


     Nascida em 1930 e falecida em 2004, a paulista Hilda Hilst foi escritora de poemas obras teatrais e textos em prosa, apesar da dificuldade com perdas familiares e a própria doença.
    Poemas aos homens do nosso tempo compõem o terceiro capítulo da obra ‘Jubilo Memória Noviciado da Paixão, publicado em 1974. e são um convite à reflexão sobre o estar no mundo e repensar o próprio mundo, a partir do que é apresentado em cada um dos poemas.
       Deixo com vocês três links referentes à obra. O primeiro é a própria obra; o segundo, é um artigo; o terceiro, uma vídeoaula. 

Link 1 - O arquivo em PDF da obra Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão (1974). Abra o link e role o arquivo até a página 88, onde se inicia Poemas aos homens do nosso tempo, composta por 17 poemas que são homenagens a diferentes personalidades. 

Link 2 - Um artigo sobre a obra publicado pela Associação Brasileira de Literatura Comparada - Abralic -

Link 3 - Vídeoaula (Youtube) do canal Literatos Capital, onde o professor Fernando Fidelix apresenta considerações sobre a obra.


Nos poemas, a autora homenageia a homens do nosso tempo. 
Abaixo, os homenageados e uma brevíssima biografia 
 
Alexander Solzhenitsyn (1918/2008) - enfrentou o sistema soviético e acabou por ser condenado a oito anos de prisão em 1945. Em 1953, foi exilado no Cazaquistão do Sul Em 1970, recebeu o prêmio Nobel de literatura. Teve sua cidadania restaurada em 1994.
 
Natalia Gorbanievskaya (1936 / 2013) - poeta, tradutora, enfrentou o sistema soviético ao protestar na Praça Vermelha (1968) contra a invasão da Tchecoslováquia e acabou por ser condenada à prisão psquiátrica. 
 
Frederico Garcia Lorca (1898 / 1936) - poeta e dramaturgo, fuzilado em 1936 pelo ditador espanhol Francisco Franco, por ser considerado comunista por sua poesia se identificar com grupos sociais oprimidos pela ditadura.
 
Alexei Sakarov (1921 / 1989) - físico e defensor das liberdades individuais. Foi agraciado com o prêmio Nóbel da Paz em 1975 pela sua luta aos direitos humanos.
 
Pavel Kohout (1926 /.....) - De origem tcheca, foi novelista, dramaturgo, poeta. Mesmo tendo sido alinhado às ideias stalinistas,  Kohout começou a enveredar pelo comunismo reformista a acabou por ser um crítico ao próprio modelo comunista.
 
Piotr Yakir (1923 / 1982) - Historiador soviético, foi crítico do stalinismo. Yakir preso e condenado a prisão em setembro de 1938 por 14 anos, além de sua mãe. Ele sofreu de congelamento quando mantido em uma cela de punição por se recusar a trabalhar. Quando seu período de exílio terminou, em 1942, ele foi convocado para o Exército Vermelho e participou da guerra, mas foi preso novamente em 1944, e em 10 de fevereiro de 1945 foi condenado a dez anos no Gulag por "propaganda contrarrevolucionária"

Mário Faustino (1930 / 1962) - Piauiense, poeta, tradutor e crítico literário. Produziu uma única obra: ‘O homem e sua hora’, em 1955. 


Sigamos em direção à obra Soneto
da autoria de Ana Cristina César

Nascida em 1952 e falecida em 1983, a carioca Ana Cristina César foi poeta, ensaísta e tradutora. Desde a infância já escrevia suas primeiras linhas.

A autora participou do que a historiografia brasileira denominou de Poesia Marginal, isto é, produção artística fora dos cânones oficiais em função da censura imposta pela ditadura militar. Entre outros temas, desenvolveu a experiência existencial e o cotidiano.

Abaixo, o poema intitulado SONETO.           

Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
 
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
 
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
 
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?

Vocabulário:

Fingir - simular, fantasiar
Viés - no poema, uma determinada tendência

Breve comentário:
O soneto como conhecemos tradicionalmente possui 14 versos decassílabos distribuídos em quatro estrofes e é conhecido como soneto italiano. Já o texto da Ana Cristina César também é um soneto com estrutura de rimas e quantitativo de sílabas poéticas diferentes do soneto tradicional. O poema pertence  à obra A Teus Pés, publicada em 1982.

Com 14 versos brancos em redondilha maior distribuídos em quatro estrofes, o poema Soneto é monólogo  em busca de respostas para aplacar seus dilemas interiores, metaforizados pelas antíteses sã / louca; fenômeno mor / lapso sutil. Em relação ao amor, o viés relacionado ao amor ao fingir fingir que finge por adorar o fingimento fingindo ser fingida revela sentimentos confusos, indefinidos.

Por fim, as múltiplas incertezas do eu lírico serão ofertadas ao interlocutor retórico meus senhores. E cada resposta será única em função da individualidade daquele que irá trazer os esclarecimentos propostos.

Se você fosse procurado por alguém íntimo e este lhe perguntasse as mesmas coisas apresentadas no poema, que respostas você daria?



Sigamos em direção à obra Quebranto
da autoria de Cuti (Luís da Silva)

     Nascido em 1951, o paulistano Cuti (Luís da Silva) é um dos mais destacados intelectuais negros contemporâneos – poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta. Doutor em Letras, é militante da causa negra, é um dos fundadores e mantenedores da série Cadernos Negros, a qual dirigiu entre 1978 e 1993. É, também, um dos fundadores da ONG Quilombo Hoje Literatura, além de membro atuante entre os anos de 1983 e 1994, além de outras atuações.

Abaixo, o poema intitulado QUEBRANTO.

às vezes sou o policial
que me suspeito
peço documento
e mesmo de posse deles
me prendo
e me dou porrada

às vezes sou o zelador
me deixando entrar
em mim mesmo
a não ser
pela porta de serviço

às vezes sou o meu próprio delito
corpo de jurado
a punição que vem com o veredito

às vezes sou o amor
que me viro o rosto
o quebranto
o encosto
a solidão primitiva
que me envolvo com o vazio

às vezes as migalhas do que
sonhei e não comi
outras o bem-te-vi
com olhos vidrados
trinando tristezas

um dia fui abolição que me
lancei de supetão no espanto
depois um imperador deposto
a república de conchavos no coração
e em seguida
uma constituição que me promulgo
a cada instante

também a violência dum impulso
que me ponho do avesso
com acessos de cal e gesso
chego a ser

às vezes faço questão
de não me ver
e entupido com a visão deles
me sinto a miséria
concebida como um
eterno começo

fecho-me o cerco
sendo o gesto que me nego
a pinga que me bebo
e me embebedo
o dedo que me aponto
e denuncio
o ponto em que me entrego.

às vezes!...

Breve comentário:
Publicado na obra Negroesia em 2007, Quebranto apresenta uma linguagem contemporânea, pois rompe com a estrutura clássica do texto poético apresentar um depoimento com características do texto em prosa em Português Brasileiro, modalidade coloquial, com ausência de pontuação, ainda que trabalho poético revelado pela anáfora (representada pela repetição do às vezes) e pelas assonâncias ao final dos versos se façam presentes.

Quebranto (mau olhado, feitiço, fraqueza, debilidade) revela uma realidade na qual o eu lírico se vale de paradoxos para denunciar a sua condição perante a sociedade como ser o policial que se prende, o zelador que entra em si mesmo pela porta de serviço e ser o próprio delito. Em outro momento do poema, quando o eu lírico afirma  fazer questão de não se ver e entupido com a visão deles se sente a miséria como um eterno começo, é como não reagir à opressão fosse a melhor estratégia para sobreviver às injustiças propostas pelo dominador.

Às vezes, às vezes, às vezes. Não é sempre, mas às vezes. Cada um de nós possui esse tipo de expressão em algum momento da vida. E o que fazemos com isso? Apenas lamentamos? Ficamos por isso mesmo? Ou fazemos algo para que às vezes possa se transformar em nunca



Sigamos em direção à obra Esses Chopes Dourados
da autoria de Jorge Wanderley


O pernambucano Jorge Wanderley (1938/1999) foi poeta, médico e tradutor. Mais conhecido como tradutor e crítico literário, publicou inúmeras crônicas e ensaios.


Abaixo, o poema intitulado ESSES CHOPES DOURADOS 

Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos
caminham para mim pela milésima vez
enquanto estou cercado por brancos azulejos
e amparado por uma toalha de quadros.
No útero deste bar vou me elevando
e saio da noite cheia de ruídos
para a manhã do mar
onde tudo é sal, impossível alquimia
disfarçada num domingo.

Amável,
esta manhã me aturde, manhã de equívocos
onde um sábado moribundo se entrega sem rancor.
Meu sábado, belíssima ave negra de olho aceso,
cai nas muralhas do sol como um herói melancólico
enquanto o mar abre o sorriso de dentes brancos
na areia alvura.

Caminho para o sol que me atrai mecanicamente:
— Vou te decifrar, domingo;
diante de mim tua esfinge se enche de pudor.

quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo

quando a minha geração batia na de vocês
ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu olhando a geração de cima

aí chegou esta hora
em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio

tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo

e sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos todos inocentes


Breve comentário:

Publicado no ano 2000 na antologia Os Cem Melhores Poemas do Século, organizado por Ítalo Moricone, Esses Chopes Dourados rompe com a estrutura clássica do texto poético ao abrir mão da métrica e rima rígidas e adotar a oralidade da língua e a estrutura da prosa. Também apresenta pontuação deficiente conforme preconizada pela norma culta.

No poema, o eu lírico afirma, por meio de várias metáforas, ter varado a noite de sábado para domingo em um bar. Para o novo dia, a decisão em expor ao sol algumas realidades ligadas à sua geração, à geração anterior e à geração posterior. Nesse ponto as considerações sobre erros inerentes às gerações são apresentadas. 

Tendo como base a geração do eu lírico (geração do meio), que afirma ter apanhado dos pais (geração anterior), aprendeu que deveria educar os próprios filhos (geração seguinte) do mesmo modo e que considerava a ação normal. Entretanto, a geração dos filhos aprendeu que a educação recebida estava equivocada. Por isso, a geração do eu lírico  sofre duas vezes: por ter sido educada e por educar do mesmo modo. No poema, duas gerações repassaram valores; a terceira, ela reviu esses princípios.

Muitas ações que exercemos no nosso cotidiano foram ensinadas por aqueles que nos criaram. Até que ponto devemos ensinar aos nossos descendentes os valores aprendidos? Até que ponto, rever esses princípios antes de passar para a frente? Uma certeza é certa (perdão pelo pleonasmo vicioso): alguns preceitos devem ser repassados tal como aprendido; outros, revistos. Entretanto, qual é a justa medida para isso?


Sigamos em direção à obra Tecendo a manhã
da autoria de João Cabral de Melo Neto

O recifense João Cabral de Melo Neto (1920 / 1999), além de ser diplomata e ter vivido em diferentes locais do mundo, foi um importante poeta brasileiro. Na poesia, o escritor possuiu uma escrita marcante, marcada pela exatidão no trato com a palavra, no sentido de valorizar a estética. Isto é, além do conteúdo (o sentido pretendido), a forma (a sonoridade, as rimas, as polissemias) também se fazia presente.

Sua obra de referência é 'Morte e Vida Severina'. Publicada em 1955, é um poema narrativo que apresenta a história de Severino, um retirante que busca melhores condições de vida na cidade de Recife. Na narrativa, Severino apresenta as dificuldades inerentes ao homem nordestino que sofre com a seca enquanto se desloca ao longo do rio Capibaribe. 

Sua poesia apresenta aspectos inerentes à engenharia das palavras. Seja de cunho social ou com traços surreais, o escritor valoriza o trabalho com as palavras.

Abaixo, o poema intitulado TECENDO A MANHÃ

TECENDO A MANHÃ

(A Educação pela Pedra - 1966)

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Breve comentário:
Publicado na obra A Educação pela Pedra (1966),  Tecendo a Manhã é um belo exemplo do trabalho com a palavra. Nesse sentido, é como se o conteúdo tivesse perdido a prioridade absoluta e a forma voltasse a ser primordial no fazer poético. 

A mensagem em si é relativamente simples. Se um galo sozinho não é capaz de tecer, construir, projetar, concretizar o amanhecer e ele precisará de outros galos, cada um de nós precisa do outro para realizarmos nossos projetos. A repetição intencional da palavra galo, o uso da aliteração relativa à letra 'g' (fonema guê), à letra 't' (fonema te), a palavra tecido como substantivo e como verbo, tudo contribui para a valorização da forma. 

Enquanto os primeiros modernistas rejeitaram o trabalho com a forma, os modernistas da terceira fase resgataram esse proceder. Na verdade, não vale a pena perder o sono por conta dessa aparente contradição. Para teóricos como Tristão Ataíde, o Modernismo havia morrido; para teóricos como Sérgio Milliet, o Modernismo retornou ao ponto do equilíbrio entre as formas clássicas que resistem ao tempo; para teóricos como Péricles Eugênio da Silva, não há ruptura ou retorno a um passado mas, sim, uma continuidade.

Para você, o texto poético deve priorizar a forma, o conteúdo ou buscar o equilíbrio entre ambos?

Espero que cada obra literária apresentada ao longo da publicação possa ter ajudado na sua  preparação para o PAS 3. 

Fernando Fernandes


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