12 - PAS 3 - Poemas aos homens do nosso tempo (Hilda Hilst); Soneto (Ana Cristina César) e Quebranto (Cuti); Esses Chopes Dourados (Jorge Wanderley); Tecendo a manhã (João Cabral de Melo Neto)
Olá, gente.
Abaixo, o poema intitulado SONETO.
Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?
Vocabulário:
Por fim, as múltiplas incertezas do eu lírico serão ofertadas ao interlocutor retórico meus senhores. E cada resposta será única em função da individualidade daquele que irá trazer os esclarecimentos propostos.
Se você fosse procurado por alguém íntimo e este lhe perguntasse as mesmas coisas apresentadas no poema, que respostas você daria?
concebida como um
Publicado na obra Negroesia em 2007, Quebranto apresenta uma linguagem contemporânea, pois rompe com a estrutura clássica do texto poético apresentar um depoimento com características do texto em prosa em Português Brasileiro, modalidade coloquial, com ausência de pontuação, ainda que trabalho poético revelado pela anáfora (representada pela repetição do às vezes) e pelas assonâncias ao final dos versos se façam presentes.
Quebranto (mau olhado, feitiço, fraqueza, debilidade) revela uma realidade na qual o eu lírico se vale de paradoxos para denunciar a sua condição perante a sociedade como ser o policial que se prende, o zelador que entra em si mesmo pela porta de serviço e ser o próprio delito. Em outro momento do poema, quando o eu lírico afirma fazer questão de não se ver e entupido com a visão deles se sente a miséria como um eterno começo, é como não reagir à opressão fosse a melhor estratégia para sobreviver às injustiças propostas pelo dominador.
Às vezes, às vezes, às vezes. Não é sempre, mas às vezes. Cada um de nós possui esse tipo de expressão em algum momento da vida. E o que fazemos com isso? Apenas lamentamos? Ficamos por isso mesmo? Ou fazemos algo para que às vezes possa se transformar em nunca?
esta manhã me aturde, manhã de equívocos
batia na minha
ainda não sabia que estava errado
em que todas as gerações já sabem de tudo
e errado quando bateu na de baixo
éramos todos inocentes
Breve comentário:
Muitas ações que exercemos no nosso cotidiano foram ensinadas por aqueles que nos criaram. Até que ponto devemos ensinar aos nossos descendentes os valores aprendidos? Até que ponto, rever esses princípios antes de passar para a frente? Uma certeza é certa (perdão pelo pleonasmo vicioso): alguns preceitos devem ser repassados tal como aprendido; outros, revistos. Entretanto, qual é a justa medida para isso?
O recifense João Cabral de Melo Neto (1920 / 1999), além de ser diplomata e ter vivido em diferentes locais do mundo, foi um importante poeta brasileiro. Na poesia, o escritor possuiu uma escrita marcante, marcada pela exatidão no trato com a palavra, no sentido de valorizar a estética. Isto é, além do conteúdo (o sentido pretendido), a forma (a sonoridade, as rimas, as polissemias) também se fazia presente.
Sua obra de referência é 'Morte e Vida Severina'. Publicada em 1955, é um poema narrativo que apresenta a história de Severino, um retirante que busca melhores condições de vida na cidade de Recife. Na narrativa, Severino apresenta as dificuldades inerentes ao homem nordestino que sofre com a seca enquanto se desloca ao longo do rio Capibaribe.
Sua poesia apresenta aspectos inerentes à engenharia das palavras. Seja de cunho social ou com traços surreais, o escritor valoriza o trabalho com as palavras.
Abaixo, o poema intitulado TECENDO A MANHÃ
TECENDO A MANHÃ
Publicado na obra A Educação pela Pedra (1966), Tecendo a Manhã é um belo exemplo do trabalho com a palavra. Nesse sentido, é como se o conteúdo tivesse perdido a prioridade absoluta e a forma voltasse a ser primordial no fazer poético.
Fernando Fernandes
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