8- A geração de 22 - Mário de Andrade

 A Geração de 22 - Mário de Andrade

Livro didático:  Se Liga nas Linguagens - capítulo 12 -  páginas 120 a 128

Dando prosseguimento à primeira geração modernista (geração de 22 ou fase heroica), vamos conhecer um pouco sobre Mário de Andrade um dos destaques do período.

Mário de Andrade (1893/1945) - Nascido e vivido em São Paulo, teve uma vida dedicada à arte. Além de poeta, contista, romancista, crítico literário e teórico da literatura, foi um estudioso da cultura brasileira na condição de etnógrafo, folclorista e músico. Por meio de viagens a diferentes regiões brasileiras, Mário colheu diferentes registros musicais por onde passou. Na Semana de Arte Moderna, exerceu papel importante entre os pares. Inclusive, discursou no segundo dia do evento (15 de fevereiro de 1922).

Na poesia, a publicação de Pauliceia Desvairada em 1922, (poemas que descrevem o cotidiano paulistano) o autor faz algumas considerações quanto aos rumos da arte moderna ao longo do prefácio (Prefácio Interessantíssimo) em que considera a possibilidade da escrita automática (Surrealismo), a liberdade na escolha das palavras e da ordenação sintática (escrever em brasileiro)  e a contemporaneidade dos temas (escrever moderno). 

Na prosa, Contos Novos (coletânea de contos), Amar, Verbo Intransitivo e Macunaíma são destaques do autor. Entretanto, Macunaíma (1928) é muito mais do que um romance. É uma rapsódia, termo que na arte musical classifica as peças compostas com base na improvisação, de inspiração em cantos populares e tradicionais. Isto é, lendas e mitos indígenas, piadas e ditos populares, expressões e rituais culturais brasileiros e sul-americanos são apresentados de forma sobreposta.

Sobre Macunaíma (maku = mau + ima = grande), a obra baseada na obra etnográfica Vom Roraima zum Orinoco, do pesquisador alemão Theodor Koch-Grünberg. Já o título, foi retirado do texto Makunaima und Pia (Macunaíma e o Piá), contido na obra Indianerm arehen aus Sudamerika (Índios arehen da América do Sul, 1927).

Macunaíma é o protagonista da obra e, ao mesmo tempo. o retrato do próprio brasileiro. Segundo o autor, Macunaíma é o herói sem nenhum caráter, no sentido de que nosso caráter ainda estaria em formação. A leitura da obra (sugestão sincera que faço, quando você tiver tempo) é fantástica, pois revela a malandragem ou o caráter picaresco do nosso ‘herói’ além de inúmeros exemplos de  lendas folclóricas. Na verdade, acaba sendo também uma obra de ficção em função dos diferentes rompimentos do espaço/tempo.

Abaixo, breve resumo da obra.

O índio tapanhuma Macunaíma vive com sua mãe e os irmãos Maanape e Jiguê às margens do rio Uraricoera, na Amazônia.  Com a morte da mãe, os irmãos resolvem sair pelo mundo, que sempre se mostra mágico e cheio de personagens míticos. Nesse contexto, encontra Ci, a mãe do mato, e a toma como esposa, tornando-se o Imperador do Mato Virgem. Depois de perderem um filho, Ci morre e lhe dá uma pedra verde que serve de amuleto: o muiraquitã. Num confronto entre os irmãos e um monstro chamado de Boiúna Capei (que logo se torna a rechonchuda lua), Macunaíma perde o seu amuleto. Sabe, por intermédio de um pássaro, que a tal pedra foi engolida por uma tartaruga tracajá na praia do rio. Segundo o pássaro, um homem pegou o bicho e encontrou o amuleto, vendendo-o a um mascate peruano que mora na cidade de São Paulo, de nome Venceslau Pietro Pietra.

Os três irmãos vão até São Paulo resgatar a pedra e descobrem que o mascate peruano é, na verdade, o gigante Piaimã, comedor de gente. Seguem-se várias aventuras entre eles, sendo que dessas aventuras, contadas como se fossem lendas, nascem várias tradições e costumes do povo brasileiro, como o jogo de truco e a festa do Bumba-meu-boi. Por fim, trava-se o confronto final entre Macunaíma e Venceslau Pietro Pietra: a casa deste possuía um cipó que ficava logo acima de uma grande panela de macarronada fervendo. Persuadindo as pessoas a se balançar, o gigante Piaimã conseguia derrubar sua vítima e obter comida. Macunaíma, no entanto, emprega a mesma técnica contra ele, matando-o na panela e recuperando o amuleto.

De volta à Amazônia com os irmãos, Macunaíma recebe da deusa-sol, Vei, suas duas filhas. Envolve-se, no entanto, com uma portuguesa, o que causa insatisfação em Vei. Esta, por vingança, atrai Macunaíma até um lago onde uma moça de nome Uiara o seduz. O índio acaba por se entregar aos desejos da moça do lago e tem os membros de seu corpo comidos pelos peixes. Recupera a todos, menos a perna e o amuleto muiraquitã, engolidos pelo monstro Ururau.

Desgostoso da vida, sem o amuleto e sem os irmãos, vai até o feiticeiro Piauí-Pódole, que o transforma na constelação de Ursa Maior.

Abaixo, trecho do capítulo 5 - Piaimã - da obra em que, miticamente, é explicada a formação da etnia brasileira. Após o milagre nas águas, a própria natureza (fauna e flora) fica impressionada com o evento. No fragmento,  Macunaíma e os irmãos já estão a caminho de São Paulo para recuperar o amuleto perdido e se deparam com uma lapa (gruta) e resolvem se lavar.

 ... Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que nem a marca dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco loiro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas. 

Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou: 

– Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz. Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:

– Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!

E estava lindíssimo na Sol da lapa os três manos um loiro um vermelho outro negro, de pé bem erguidos e nus. Todos os seres do mato espiavam assombrados. O jacareúna o jacaretinga o jacaré-açu o jacaré-ururau de papo amarelo, todos esses jacarés botaram os olhos de rochedo pra fora d’água.Nos ramos das ingazeiras das aningas das mamoranas das embaúbas dos catauaris de beira-rio o macaco-prego o macaco-de-cheiro o guariba o bugio o cuatá o barrigudo o coxiú o cairara, todos os quarenta macacos do Brasil, todos, espiavam babando de inveja ....

No link abaixo, uma reportagem produzida pelo Bom Dia São Paulo, alusiva ao centenário da Semana de Arte Moderna em que a casa de Guilherme de Almeida e e de Mário de Andrade são apresentadas, hoje como espaço cultural.


Em linhas gerais, a publicação que você acabou de ler segue o que está registrado no nosso livro didático. com a finalidade de apresentar Mário de Andrade com breve biografia, sua importância para a renovação da arte brasileira. Também, apresentar sua obra prima, Macunaíma.

Bom estudo.



Fernando Fernandes


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